segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Estórias de Trancoso

Estórias de trancoso eram assim que chamavam as mulheres do interior quando se tratava de um relato que envolvia, pessoas mortas, cemitérios, e tudo isso fascinavam todas as crianças e adultos, quando dava 6:00hs da noite, povoado sem energia todos já tinham tomado café sentávamos na porta e aí Marilda começava a tirar estórias do seu baú, gravadas em sua mente com detalhes minuciosos que faziam a turma toda nem se levantar para tomar água, e quem disse que tínhamos coragem de ir até a cozinha pegar agua da forma ou do pote, pois nessa época quem tinha geladeira eram os fazendeiros da região, nossas mães conheciam porque trabalhavam para eles, daí começava a contar uma estória e entrava por outra, cada um que se candidatar-se a contar a melhor estória, criança não podia se meter, só ouvir mesmo, e se arrepiar de tanto medo, quando acabavam-se as estórias, entravamos nas brincadeiras,eu sou rica, rica, rica, de marré...ciranda, cirandinha...seu rei mandou dizer...anel, anel e etc.
Por volta de 00:00rs se despediam e íamos dormir à luz de lamparina, e quando as noites eram de chuva era maravilhoso, o calor não incomodava, os mosquitos não picavam, e o barulho da chuva acalentava o sono, sonhávamos voando, e no outro dia começávamos tudo outra vez, era uma rotina, mas não era uma mesmice, as aventuras se renovavam, a cada dia, desde uma trouxa de roupa lavada no rio, com as piabas cutucando a  nossa perna, até o banho de cacimba a tarde, tudo era muito divertido, mas o que eu mais gostava de fazer, era a noite quando meu pai me levava para a beira da praia e sentados num casarão abandonado ficávamos olhando a  lua e atirando pedras ao mar.Espero que tenham viajado comigo porque quando fecho meus olhos lembro-me de cada detalhe, e se você também quiser sonhar precisa estar de olhos fechados, é dormindo que sonhamos, é sonhando que se vive,  é vivendo que somos felizes, e se somos felizes duramos muito mais...Até a próxima.


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